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Notas

A música faz parte de mim. É uma grande fracção do que sou, do que fui e daquilo em que me construo à medida que avanço. É parte do meu dia, está em tudo o que vejo e naquilo que oiço. Nas palavras, ainda que pronunciadas sem qualquer intencionalidade melódica. As palavras são, talvez, aquilo que mais me interessa na musica. As palavras dentro da música e as palavras que saem da música, que a própria música suscita. Porque até todo o instrumental tem palavras, se ouvirem bem elas estão lá. Apreendo músicas novas sempre que posso e com isso, novas palavras que formam novos sentidos, trazem novas verdades. Mas há sons, algumas músicas, que já cá estão desde sempre, diria eu. Não sei quando apareceram ou se sempre cá estiveram. Já fariam sentido aquando das aguas profundas do ventre da minha mãe? Terão aparecido no berço, mais tarde? Não sei. Tampouco importa. Estão desde sempre digo, porque desde sempre me lembro dessas melodias e, principalmente dessas palavras. Porque ao ouvi-las me nascem no espírito e me florescem na boca, como se nunca tivesse aprendido a juntá-las daquela maneira, como se aquelas construções sempre ali estivessem estado. Nas várias fases da vida essas palavras dentro dessas músicas têm novos significados e por isso sei que são perfeitas, porque nunca se gastam e nunca acabam de me ensinar. Não são umas palavras comuns, vulgares. São as mais bonitas. E os blocos que constroem são as frases também elas as mais bonitas. Quem as juntou assim e, com toda a mais perfeita métrica escreveu de fundo as mais bonitas melodias são aqueles que sei os maiores poetas. Chico Buarque e Sérgio Godinho existem em mim desde que me lembro, desde sempre. E esta música é a junção desses dois génios.

Um Tempo Que Passou

Música: Sérgio Godinho
Letra: Chico Buarque

Vou
uma vez mais
correr atrás
de todo o meu tempo perdido
quem sabe, está guardado
num relógio escondido por quem
nem avalia o tempo que tem

Ou
alguém o achou
examinou
julgou um tempo sem sentido
quem sabe, foi usado
e está arrependido o ladrão
que andou vivendo com meu quinhão

Ou dorme num arquivo
um pedaço de vida
a vida, a vida que eu não gozei
eu não respirei
eu não existia

Mas eu estava vivo
vivo, vivo
o tempo escorreu
o tempo era meu
e apenas queria
haver de volta
cada minuto que passou sem mim

Sim
encontro enfim
iguais a mim
outras pessoas aturdidas
descubro que são muitas
as horas dessas vidas que estão
talvez postas em grande leilão

São
mais de um milhão
uma legião
um carrilhão de horas vivas
quem sabe, dobram juntas
as dores colectivas, quiçá
no canto mais pungente que há

Ou dançam numa torre
as nossas sobrevidas
vidas, vidas
a se encantar
a se combinar
em vidas futuras

Enquanto o vinho corre, corre, corre
morrem de rir
mas morrem de rir
naquelas alturas
pois sabem que não volta jamais
um tempo que passou

(Ou dançam numa torre...)

(Enquanto o vinho corre, corre, corre...)

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